Meu
tio Crispim havia falecido em virtude de uma picada de uma cobra cascavel,
enquanto roçava suas terras e seu corpo só havia sido encontrado no dia
seguinte após sua morte.
Meu
pai encontrou a cobra escondida debaixo e uma pedra, e cortou-lhe a cabeça com
um facão. Depois cortou fora seu chocalho e guardou-o.
Naquela
manhã, toda a família estava no velório do defunto quando em companhia de minha
adorada mãe entrei na sua casa. O corpo do meu tio já estava dentro de um
caixão de pinho e havia pressa em enterra-lo, uma vez que já começava a cheirar
mal.
Isso
não me impediu de me aproximar do caixão e olhar para aquele corpo sem vida.
Aquilo não fazia sentido para mim. Morrer era para mim algo errado e sem o
menor sentido para a vida. Foi quando vi meu pai colocar o chocalho da cobra
dentro do caixão. Não entendi por que ele fez isso.
Ao
final da tarde, meu tio foi enterrado no cemitério da cidade. Eu fui ao seu enterro
com meus pais.
Descerem
seu caixão numa cova e depois cobriram com terra. Agora ele seria enterrado
junto com o cocalho da cobra.
Então
me perguntei:
-
Como isso é possível? Um homem nasce, cresce, constitui família, e de repente é
jogado numa cova sem vida? Que sentido teve sua vida além do pouco que
realisou? Será que isso foi bastante?
Por que homens como meu tio Crispim morrem tão cedo? Meu avô tem 92 anos e fica
La em casa já demente. Ele se caga todo e é minha mãe que vai limpar aquela
sujeira. Isso me revolta, mas ele continua vivo, mesmo sendo um inútil e
demente.
Olhei
para mais adiante e vi sua esposa chorando incon-solável, segurando um filho
ainda de colo.
-
E esta criança? Será que foi o bastante para ela ter conhecido o pai até esta
curta idade? Será que um dia ela vai lem-brar deste pai?Isso é justo? Por que
tem que ser assim? Não poderia ser de outro modo?
Então
imaginei meu tio dentro daquele caixão e com uma tonelada de terra sobre ele.
Foi algo que não gostei de imaginar.
Havia
uma arvore mais adiante e um velho estava encostado ao seu tronco, E o velho
olhou para mim, antes de soltar um sorriso medonho e sair de lá sorrateiramente
até atingir uma arvore mais além.
Eu
ainda não sabia, mas naquele dia minha vida ia mudar.
E
não demorou muito para eu ver isso acontecer.
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