Este é um trecho do meu romance "O Pequeno Mago" de quando Zequinha conversava com seu anjo da guarda, que usava um canário para poder manter contato com ele.
- Mas antes vou abençoar a lagoa para
que tu fiques com o teu espírito mais fortalecido.
- E carece disso?
- De carecer não sei se carece, mas acho
que é bom para teu espírito, pois em breve vai fazer uma cura na casa do Zé
Roxo.
- Num gosto dele não... Só vive de
bebedeira no boteco do Juvenal.
- Mas num é ele que vai curar. É de
outra pessoa.
- Vira de costas que vou tirar minhas
roupas.
- Já virei.
- Quem ta doente na casa do Zé Roxo?
- Ainda não está doente. Mais tarde vai
adoecer.
Zequinha
tomava seu banho, mas não parava de conversar com o canário. Estava achando
aquilo muito interessante. Poder falar com um passarinho era realmente algo
extraordinário.
-
Nunca curei ninguém de doença nenhuma, e nem entendo de ser médico.
-
Mas agora vai poder curar. Basta orar e pedir a Deus.
-
Por que eu devo fazer curas?
-
Por dois motivos. Primeiro porque você tem alma pura. Segundo porque aqui não
tem médicos, e as pessoas precisam ficar boas quando adoecem.
-
Então eu aceito fazer curas. Tenho pena de quem que fica doente. Não devia
haver doenças.
Zequinha
saiu da lagoa e enquanto se vestia o canário continuava falando.
-
Desde agora já tem o poder da cura, e também de falar com o mundo espiritual de
tocas as dimensões. Poderá fazer curas do físico e do espírito. Muitas pessoas
não são felizes porque sofrem da doença do espírito. A alma delas adoece. Estas são as mais
difíceis de curar.
-
Não sou feliz... Antes que meu pai morresse, eu era feliz, mas quero que as
pessoas se sintam felizes. Acho que curar as doenças delas as farão se sentir
felizes.
-
Entendo. Mas um dia será feliz... Muito feliz. Nem todos os que nascem neste
mundo são felizes. A maioria veio para passar por provações.
-
Porque eu nasci? Por que tinha que ser eu a ter um tio como o que tenho?
-
Porque Deus te ama tanto que lhe deu a vida. Ele sabia que ia poder contar
contigo. Quanto a ter um tio como o que tens, isso é apenas temporário. Não há
mal que seja para sempre.
-
Eu amo Deus e sei o quanto dependo Dele para viver. Todas as pessoas deviam
amar a Deus. Mas às vezes acho que Deus não está olhando para aqueles que
sofrem.
-
Engano seu. Ele está olhando sim, mas aquele sofrimento é necessário para a
purificação da alma. E Deus precisa de você...
-
Como? Ele é Deus e não precisa de um mortal.
-
Está novamente enganado. Deus precisa dos seus filhos, por isso eles existem.
-
Por que precisaria sendo Ele Deus?
-
Você saberá quando puder entender estas coisas. Mas veja como você já passou a
entender a natureza de Deus. Até a pouco não pensava assim. Apesar de criança,
você vai passar a pensar e falar como um sábio.
-
E isso é bom?
-
De certo modo é. Mas tome cuidado. As pessoas não vão entender se você falar
assim diante de algumas delas.
-
Não temo as pessoas. Sei que muitas são más, porém, saberei calar quando for
preciso.
-
Faça isso. Mantenha-se calado diante das pessoas que não podem entender você.
O
canário voava de árvore em árvore, mas estava sempre perto de Zequinha.
Enquanto
caminhava pela estrada, conversava com seu anjo da guarda.
Dias depois eles conversam:
-
Não queria que tio Rosivaldo morresse. Eu sei que ele era malvado, e não valia
nada, mas não desejava a sua morte.
-
Sei disso meu menino. Foi só um lamentável acidente – Disse o anjo Nizael
tentando consolar Zequinha.
-
Eu sei que foi um acidente.
-
Mas não fique assim Zequinha. Logo tudo vai passar.
-
Nizael, posso te perguntar uma coisa?
-
Pode sim. O que quer saber?
-
Não entendo nada de almas encarnadas. Não sei como pode uma alma encarnar numa
pessoa. Acho isso muito esquisito. Para mim, é como se as pessoas fossem
depósitos, que pudesse ser ocupado por outro tipo de vida. Não sei se me
entende, mas é isso que sinto.
-
Uma pergunta difícil de te responder.
-
As pessoas não poderiam viver sem ter dentro de si uma alma?
-
Não. Isso não seria possível.
-
Por que não?
-
Deixa ver se consigo te explicar. A matéria não pode pensar e agir por si
mesma. Mesmo que o homem tendo cérebro, seria um cérebro sem consciência, e
agiria por puro instinto, e apenas controlando as funções dos seus órgãos. Não
conseguiria evoluir, porque desconheceria o que existe além dele mesmo. Não
saberia reconhecer nada além de si. Estaria ele preso em reações puramente
limitadas a matéria. Seria como um ser a vagar pela terra sem tomar conhecimento
de tudo a sua volta. É a alma que tem a consciência. É ela que liga esta
consciência ao cérebro do ser vivo. O cérebro por si só, não poderia ter sentimentos.
Assim como o sentimento que sente pela morte do teu tio. Um ser semelhante ao
morrer, seria indiferente aos demais. Mas com a alma, ela trás este sentimento,
é esta a diferencia que o faz crescer na escala evolutiva. Veja como até um
animal protege seus filhos. É ai que reside a importância da alma. Sem ela o
animal abandonaria seus filhos, porque seria indiferente a eles e a sua
existência.
-
Quer dizer que o cérebro não pensa?
-
Quase isso. Na verdade me refiro a sentimentos. Nunca foi encontrada uma resposta,
de como o cérebro tem estes sentimentos. O homem sabe onde fica no cérebro, a
região dos pensamentos, mas nada sabe de como ele consegue ter pensamentos, que
sejam como sentimentos, como o amor, porque isso vem da alma. O homem vagaria
pela face da terra, sem se importar com o seu semelhante.
-
Então sem a alma não existiríamos?
-
Exatamente. Sendo Deus um ser perfeito, primou Ele pela perfeição da Sua
Criação, colocando nos seres vivos, a energia que Nele existe. “E Deus criou o
homem a Sua imagem”.
-
É... Parece fazer lógica. Não entendi tudo isso que falou, mas entendi que
precisamos ter alma, para termos sentimentos.
-
Isso mesmo Zequinha.
Ao
passarem pela jabuticabeira quando eles se aproxi-mavam da lagoa, ela fala a
Zequinha.
-
Como vai este menino? Parece-me tão triste...
Zequinha
a ignora. Não estava com a menor vontade de conversar.
-
Falei com você menino – Insistiu a jabuticabeira.
-
Bom dia dona jabuticaba – Respondeu ele sem encarar a árvore.
-
Que idade você tem Zequinha? – Quis saber ela, puxando conversa.
-
Tenho seis anos e quatro meses.
-
Só isso? Ainda tem muito que viver, mas devo viver mais que você.
-
Qual a tua idade jabuticabeira?
-
Neste mundo material, diria que algumas décadas.
-
E tem outro mundo pra tua idade existir? Não entendi o que quis dizer...
-
Eu já existia antes deste tempo existir.
-
A que tempo se refere? Só conheço o tempo que tem noites e dias.
-
O tempo onde o tempo não existe.
-
Ahhhh... Deixa de tirar onda com minha cara. O tempo sempre existiu.
-
Não estou tirando onda com a sua cara, menino. Como pode haver tempo em uma
dimensão infinita? Você só sabe ver o tempo em que vive aqui, e este é
ilusório. Ele apenas marca um período num espaço onde se manifesta. Uma mosca
vive em média cinco dias do teu tempo, mas para ela foram como anos e mais anos.
Nasceu, cresceu e se procriou, e tudo isso no teu tempo, marcou apenas cinco
dias.
-
Ela só vive isso? Coitada...
-
Se vivesse mais tempo este mundo estaria coberto por uma enorme nuvem de
moscas. Assim se comporta o tempo no plano material, determinando a vida
biológica das espécies.
-
Isso é muito complicado para mim. Você diz que já existia antes do tempo
existir, mas logo diz que não tem tempo. Minha cabeça fica confusa. Só sei que
tenho seis anos, e para mim isso é tempo.
a singeleza da Verdade verte-se em poesia! As minhas emoções falam. Paz Profunda
ResponderExcluirA singeleza da Verdade verte-se em poesia. As minhas emoções falam.
ResponderExcluirPaz Profunda
Fernanda Lança
Obrigado minha querida
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