TRECHO DO ROMANCE TEMPOS DISTANTES
Bob se preparava para tomar posse das suas
terras.
Enquanto arrumava suas bagagens, relembrou o
dia que seu pai o tirou da
escravidão. Desde então
sua vida havia passado por uma grande mudança.
Mr. Robert
havia chegado minutos antes
da hora do almoço na fazendo do Sr.
Emiliano Madeira e conversava animadamente na varanda da casa grande daquela fazenda, quando viu um garoto mulato
passar carregando um feixe de lenha, que
ao cruzar o terreiro que ficava diante da casa, ele deu uma breve olhada e algumas
particularidades no garoto, que lhe chamaram atenção.
Percebeu que o garoto não tinha lábios grossos,
e o seu nariz era quase afilado como os
dos meninos brancos. Tinha olhos verdes e feições finas. Imediatamente perguntou ao Sr. Emiliano, de
quem era aquele garoto.
- Meu
amigo, este garoto que acaba de cruzar o terreiro, quem é ele?
Emiliano olhou-o e um pouco sem graça e
respondeu:
- Lembra-se daquela vez que esteve aqui e vos
dei para dormir, uma nêga muito bonita?
Mr. Robert fez que sim com a cabeça já
esperando qual seria a continuação daquela historia.
- Pois
é, meu caro Mr. Robert. Daquelas noites que vosmercê dormiu cum aquela nêga,
nasceu este garoto. Ele é vosso filho.
Imediatamente Mr. Robert se pôs de pé e
interpelou o Sr. Emiliano:
-
Quanto me custaria a alforria e posse do garoto? Diga e pagarei agora mesmo ao
senhor. Não quero ter um filho escravo neste mundo de Deus.
- O que pretende fazer com o garoto? Ele é
filho de nêgos.
- O levarei comigo e darei a ele tudo para
que seja feliz e livre.
O senhor Emiliano olhou para Mr. Robert
parecendo não acreditar no que ouvia e então disse:
- Sabe que ele poderá sofrer sérias
perseguições e discriminações, não sabe?
- Sim. Estou bem a par de como os brasileiros
tratam homens negros, e os mulatos ainda são piores, porque nem são negros e
nem são brancos.
- Quer mesmo levar ele?
- Se me disser o valor da alforria e quanto
deseja receber por ele, o levarei assim que estiver de posse do documento.
- Mr. Robert, tenho muita admiração por
vosmercê. Eu vos devo muitos favores. A
sua influência nos negócios de exportação que trato com o vosso país. Quero muito bem a vosmercê, e por isso,
não precisa me pagar nada, pode levar
seu filho quando for vortar para Salvador. Amanhã mesmo vou pedir qui
seja providenciado a alforria dele.
- Muitíssimo obrigado meu amigo. Ficarei grato a vosmercê eternamente.
- Se eu houvera de saber qui o senhor o
queria tanto assim, teria mandado deixá-lo há mais tempo em sua casa.
Mr. Robert estava emocionado. Enviuvara cedo
sem filhos, e se negava a contrair um
novo matrimonio. Aquele filho seria a sua continuação, e a cor para ele nada
significava. Faria daquele menino um homem digno e preparado para a vida. Seria educado como um Lord.
- Pode me dizer como eu poderia falar com a
mãe dele para avisá-la? Não quero arrancar o garoto de suas mãos sem
dar uma satisfação.
- Vou mandar chamá-la e vosmercê conversa cum
ela, mas adispois do almoço, minha sinhá
não gosta de atrasar o horário das refeições.
Depois do almoço o senhor Emiliano mandou
chamar a mãe e o garoto para conversar com o Mr. Robert.
Quando ela chegou, vinha acompanhada do
garoto, e ao ver o inglês, teve que ser
muito forte para manter-se aparentemente serena, tal a emoção que sentia.
Mr. Robert também estava emocionado, mas
manteve sua impecável postura inglesa.
- Maria Tina, minha cara amiga – começou a
falar – acabo de saber que este garoto é
nosso filho, e estou disposto a levá-lo livre comigo para Salvador. Lá, darei a
ele a educação de um verdadeiro nobre. Ele terá tudo do bom e do melhor que
estiver ao meu alcance.
Maria Tina não respondeu de imediato. Ouvira
perfeitamente a proposta tão nobre daquele cavalheiro inglês, e sabia que
falava a verdade.
Sabia que nada poderia fazer para impedir.
Como escrava tinha que aceitar.
Achou nobre da parte de Mr. Robert, pedir sua permissão. Olhou para o
garoto e disse:
- Roberto, vai tomar a benção a este home.
Ele é o vosso pai qui te falei.
Muito desconfiado o garoto veio até junto de
Mr. Robert e estendeu sua mãozinha para receber a benção. Mr. Robert o abraçou forte
e disse:
- Meu
filho, está abençoado pelo resto de tua vida. Perdoa vosso pai
que não sabia de vossa
existência, mas de agora em diante estaremos sempre juntos e terá de mim, todo
meu carinho e atenção. Vós sois a minha maior alegria que eu poderia ter nesta
vida. Já não é mais um escravo.Todos agora vão saber que és meu filho.
Maria Tina então falou comovida:
- Senhor, este é vosso fio que Deus me mandou
criar. Se for para a felici-dade dele,
qui siga cum vosmercê, e qui o sinhô seja abençoado por todos vossos dias.
Mr. Robert continuava abraçado ao garoto e
olhando para Maria Tina, perguntou:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários