“Tempos Distantes” nasceu de uma promessa feita por mim, como uma homenagem aos escravos do recôncavo baiano, quando visitei o museu Museu Wanderley Pinho em 1970.
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Um trecho deste romance.
Quando Joaquim chegou à cozinha, faz sinal para que a criadagem se
retire e o deixasse a sós com Zazá. Então, encostando sua boca bem perto dos
ouvidos da negra, diz com os dentes cerrados.
- Vosmercê é incompetente. Eu falei pra vosmercê que queria uma
negrinha selada e tu me arrumas aquela “zinha” já furada.
Zazá arregalou os olhos espantados, engolindo em seco e respondeu:
- Meu sinhô, eu juro de pé junto qui num sabia que ela já tava furada.
Ao que me constava ela ainda era selada.
- Estes negros desgraçados num sabem que num podem se deitar com as
negrinhas antes de mim? Eles estão a me desafiar?
- Não, meu sinhô... Apois entenda. É difícil pru mode eles não cruzarem
com as negrinhas. São fogosos e deve de ter acontecido deles se envolverem e
acabaram se deitando nos matos.
- Pois trate de arrumar uma que me sirva para a próxima vez, entendeu?
Zazá ficou pensando por alguns segundos. Tinha algo em mente, que achou
ter chegado o momento para por em prática. Então respondeu:
- Sim sinhô. Pode deixar que já inté tenho nas ideias de quem vô de arrumar.
Joaquim ao ouvir aquela revelação, abrandou a voz e alisando o traseiro
de Zazá, quis saber quem ela tinha em vista.
- Me conta logo quem é esta “zinha”. Não me consta que tenha mais
alguma negra para se deitar comigo.
Zazá sorriu satisfeita. Era hora de barganhar e fazer valer tantos anos
de humilhação. Havia esperado 15 anos por esta oportunidade e agora chegara da
sua grande chance. Havia deixado guardado este segredo para uma ocasião
especial. Pretendia esperar mais um pouco, mas achou melhor executar seu plano
logo de uma vez e ver no que resultaria.
- Mas pra esta vosmercê vai de ter uma condição especiá. Afinar de
conta trata-se de uma negrinha muito bem cuidada e preparada esperciamente pru
meu sinhozinho.
- Deixa de rodeios e diz logo quem é esta zinha.
***
- Tive que fazer acerto com Zé Pedreira pra
ele fechar o bico. O marvado quase num aceitava minha proposta.
- Mas me conte cuma foi mesmo que o
sinhozinho conheceu vosmercê.
Zazá ficou pensativa por alguns segundos.
Olhava para o alto como que juntando
suas lembranças daquele dia, já quase esquecidas.
- Foi assim. Eu tava cum vossa idade, e fui
pra colheita de mandioca, e ai ele veio amuntado no cavalo galopando todo convencido,
ao lado do pai dele. Butô os zóios em
riba de mim, e eu baixei as vistas.
Tremi de medo dele. Quando a noite já tava
chegando, o Capitão de Mato me chamou de parte e disse pra eu ir cum a nega
“Carrapeta”.
Intonces, ela mandou eu me banhar, e me deu
água de cheiro. Preguntei pru mode era tudo aquilo, mas ela num disse uma
palavra. Adispois me deu um vestido
usado, mas estava lavado, e cheiroso qui nem fulores dos campos. Eu já tava disconfiada
adimais da conta.
- Não sabia nada mesmo?
- Só desconfiava de ser o pai dele qui me queria.
O veio era muito sem vergonha, e muito
do safado. Já tinha ouvido falar qui a “Carrapeta” era qui cuidava dos
encontros cum o veio safado. Aquele home era um varão sem piedade. Inté cum as
negras casadas ele se deitava. Ninguém nêgo se casava sem ele antes provar da
mulé.
- Sim. Continua a contar.
- Aí o Capitão de Mato me arrastou pra
cabana. Meu coração parecia qui ia pular pela boca de tanto medo. Aí já sabia
que ia me acuntecer. Me tremia qui nem vara verde na ventania. O Capitão de Mato
me deixou acorrentada na frente da cabana, e disse qui eu nem tentasse fazer
nenhuma arte, se não ele me botava no tronco. Mais tarde ele chegou. Trazia uma
sacola e entrou na cabana, oiando pra mim cum um sorriso na cara, cuma se eu
fosse um petisco. Tumei foi raiva dele. Adispois veio e abriu os braceletes de ferro que me prendia, e me levou pra dentro da cabana. Na mesa tinha bastante comida.
Carne assada, costela de porco, galinha,
arroz e farofa.
Mandou qui eu cumesse. Tinha um garrafão de
vinho e queijo do outro lado da mesa. Ele me serviu de vinho e bebeu tumbém.
Bebi bastante. Queria pra ficar
embriagada, e pra puder suportar ao qui ia de me acuntecer.
- Ficou bêbada?
- Qui nada. No terceiro copo ele me tomou
pelas mãos e me arrastô pra cama, e arrancô meu vestido me deixando nua, e intonces
aconteceu.
- Hum... Sei. E adispois?
- Adispois? Ah, era quase toda noite qui ele
mandava me levar pra cabana. Acabei me apaixonando
pur aquele mardito. A gente se enroscava qui nem dois doidos. Me tratava bem,
me dava presentes, e era carinhoso. Proseava comigo e contava
historias lindas. Gostava dos beijos dele qui me deixava assanhada.
Nunca qui sabia qui pudia de beijar
assim cuma ele beijava. Inté acho qui foi isso qui fez eu me apaixonar pru ele. Eu tava era viciada
em deitar cum ele. Fazia tudo de safadeza que imaginava. Muntava nele e tinha
prazer apois demais.
*****
- Meu
amigo, este garoto que acaba de cruzar o terreiro, quem é ele?
Emiliano olhou-o e um pouco sem graça e
respondeu:
- Lembra-se daquela vez que esteve aqui e vos
dei para dormir, uma nêga muito bonita?
Mr. Robert fez que sim com a cabeça já
esperando qual seria a continuação daquela historia.
- Pois
é, meu caro Mr. Robert. Daquelas noites que vosmercê dormiu cum aquela nêga,
nasceu este garoto. Ele é vosso filho.
Imediatamente Mr. Robert se pôs de pé e
interpelou o Sr. Emiliano:
-
Quanto me custaria a alforria e posse do garoto? Diga e pagarei agora mesmo ao
senhor. Não quero ter um filho escravo neste mundo de Deus.
- O que pretende fazer com o garoto? Ele é
filho de nêgos.
- O levarei comigo e darei a ele tudo para
que seja feliz e livre.
Gostei muito desse pequeno trecho de seu romance.... faz com que viajemos com a historia. Parabéns.... preciso comprar esse livro... beijos
ResponderExcluirInes de Carvallho.
A capa deste romance é uma tela a óleo pintada pela grande artista plástica Nice Ventura, que cordialmente me concedeu permissão para que eu ilustrasse esta obra.
ResponderExcluirTrata-se de uma saga épica onde podemos acompanhar o empenho de um mestiço, que luta pela liberdade e bons tratos aos negros escravos no recôncavo baiano.
Este mulato descendente de inglês e uma escrava negra, tem olhos verdes e isso atrai as mulheres.
Bob, como era conhecido, se envolve em romances e acaba criando inimigos das fazendas vizinhas.
Era um líder nato e tido como rei pelos escravos.
Não deixe de ler este lindo romance.
Obrigado Inês.... Quem leu meu romance Tempos Distantes, se encantou.
ResponderExcluirMEU AMIGO. amei e me emocionei com seu texto , ja vi esse filme infelizmente, MEU AVÔ Manoel de Almeida leme fazia o mesmo , só que ele estipulava a idade 13 anos e nesta , imoralidade dos prepotentes nasceu uma menina de nome FRANCISCA ele lhe deu seu nome e a criu como filha que era , ela era um anjo eu a amava era minha tia CHICA , Ela criou um sobrinho que se tornou medico , um dia a matou a pauladas por ser NEGRA, isto é uma nódoa , quero ler seu livro deve ser lindo . Chorei de emoçao, parabens , contei lhe esse fato movida pela emoçao, UM BEIJO CA MALU
ResponderExcluirteu Blog esta lindo amigo e teus romances são fantásticos, parabéns por este dom maravilhoso que você possui, bjs
ResponderExcluirA historia se passa em "Tempos Distantes", mas fechando os olhos é como se fosse hoje a paixão é igual em todo tempo. parabéns poeta vc escreve muito bem nos prende do principio ao fim. Parabéns!!! Beijos
ResponderExcluirPoeta Querido
ResponderExcluirMeus parabéns por mais uma obra espetacular!
BjOs
Um dos mais belos romances épicos que já tive a honra de ler. A história é encantadora, e a forma como vc descreve os personagens e os ambientes, nos remete no tempo. Apaixonei-me pelo Bob e me identifiquei com Luíza. Parabéns meu amor, pela tua sabedoria, criatividade e amor ao que faz.
ResponderExcluirUMA ÉPOCA NEGRA DE NOSSA HOSTORIA, NARRADA COM DETALHES REALISTA DA ÉPOCA.... NAO DEI DE LER ESTA OBRA E VAI SE ENCANTAR.
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