Um aviso do Além
1978
O
dia já amanhecia numa bela manhã de agosto e fui acordado por uma voz que me
chamava.
Ainda
sonolento abri meus olhos e vi a imagem do meu tio Zeca que falou sem dar
maiores explicações:
-
Carlos, eu estou preocupado com a saúde do meu filho Francisco.
Francisco
era o seu filho caçula. Já um homem feito, parecia distribuir saúde, o qual
carinhosamete o chamávamos de Chicão.
A
princípio eu não entendi porque o motivo daquele aviso.
Meu
pai logo surgia a copa para seu café da manhã e eu fui até ele e comentei o
ocorrido:
-
Papai – comecei falando – Tio Zeca me acordou esta manhã e estava preocupado com
a saúde do Chicão. Como vai ele de saúde?
Papai
mostrando surpresa respondeu:
-
Ontem eu o vi na fabrica e me pareceu bem sadio e disposto. O que o Zeca disse?
-
Não disse muita coisa. Apenas se mostrava preocupado com a saúde do filho.
Papai
manteve-se em silêncio e continuou a tomar seu café. Depois foi para para a industria
sem tocar mais o assunto.
Devia
ser bem antes das nove horas, quando ele ligou para a mamãe pedindo que eu
fosse até a indústria.
Troquei
de roupas e fui encontrar papai.
Ao
chegar lá ele apenas disse-me:
-
Meu filho, João Correia quer que você lhe fale sobre que o Zeca te falou.
João
Correia alem de filho do tio Zeca, era o presidente da industria (cera de carnaúba,
sabão, sabonete e velas). Papai era uns dos diretores.
Fui
até João Correia e este pediu que lhe cotasse o que eu havia visto e ouvido do
tio Zeca. Fiz meu relato e não entrei em maiores detalhes, mesmo porque nada havia
além do recado deixado pelo meu tio.
Então,
o Chicão surgiu próximo ao bebedouro a alguns metros e João Coreia disse:
-
Olhe ali o Francisco. Ele está sadio e não tem adoecido há vários meses.
Fiquei
com cara de tacho. Não que eu desejasse que Chicão estivesse doente, mas sua saúde
parecia desmentir categoricamente a minha estória.
Deixei
a indústria sem entender o que havia de fato acontecido que motivasse o aviso
do tio Zeca.
Nesta
época eu morava em Salvador. E estava na cidade dos meus pais de férias. Todos
os anos eu costumava passar minhas férias com eles. Tão logo minhas férias
acabaram retornei para Salvador.
Dois
meses depois, recebi um telefonema do meu pai em que ele me dizia que o Chicão
havia sofrido um neurisma cerebral e se deslocado para o Rio de janeiro para se
tratar. Naquela época, Chicão tinha uma empresa de vídeos que costurava cobrir
eventos, inclusive de casamentos.
Dois
meses já haviam transcorrido desde etão, quando recebi outro telefonema do meu
pai, em que ele me informava.
-
Carlos meu filho, Francisco acabou de falecer enquanto fazia uma cobertura de
um casamento. Ele estava no altar e caiu morto, fulminado devido a um ataque de
neurisma.
Então
eu me lembrei daquela manhã, na qual meu tio Zeca havia deixado o aviso sobre a
saúde do seu filho. Eu tinha um bom relacionamento com o meu tio Zeca quando
este ainda estava vivo. Acredito que por este motivo e por eu ser médio, que
ele me escolheu para dar seu aviso.